terça-feira, 13 de outubro de 2009

Práticas de Leitura, Escrita e Oralidade no Ambiente Doméstico

No Módulo 3 da interdisciplina de Linguagem e Educação - Práticas de leitura, escrita e oralidade no ambiente doméstico, foram oferecidos variados recursos para o estudo do tema.


Após, a tarefa era gravar ou transcrever a narrativa de uma história feita por uma criança ou adulto e refletir sobre ela a partir do estudo do texto, do vídeo e do áudio.


Convidei uma linda menina de 6 anos e 1 mês para fazer a narrativa de uma história qualquer e ela concordou com a filmagem, o que, para mim, facilitaria a transcrição da sua fala.

"Era uma vez uma madrasta que tinha um homem e dois filhos. Um... o menino era chamado João e a menina era chamada Maria... Maria. Daí... daí os dois fugiram de casa só para se aventurar.
Daí eles... encontraram uma casinha cheia de... a chaminé era de... sorvete e também a cas... a cerca era de chocolate. Daí eles entraram e comeram alguns pedaços da casa. E a... daí apareceu uma velhinha... se fingia de boazinha, mas não se fazia de uma madrasta... horrível. Daí ela pegou o seu irmãozinho chamado João daí o colocou em uma cadeia para comê-lo. Daí convidou... daí disse (...) para a Ma... para... ela obrigou a menininha para faxinar na casa dela e com toda... e se não faxinar, ela disse, se ela não faxinar, ela vai também morrer.
(Aaiii! Pára! – para o maninho.)
Daí a menininha, quando a madrasta estava dormindo, a menininha... soltou-lo . Daí ela ouviu, acordou logo e correu atrás dos meninos... dos dois. Daí eles correram tão ligeiro que empurraram ela para a chavi... para a lareira... e ela voou pela “chaviné”. Daí eles buscaram todo o ouro dela. Depois se arre... daí voltaram pra casa e disseram desculpa ao seu pai e a sua mãe que fugiram de casa. Mas seu pai e sua mãe ficaram muito contentes. Sua mãe disse que nunca mais ia maltratá-los só porque fugiram e pegaram todo esse ouro. Contaram toda a história para seu pai e para sua mãe.
É o fim da história."


Na análise da fala, aparentemente, ficção e relato de experiências vividas não se combinam nessa narrativa infantil, mas a visível “confusão” entre os personagens da madrasta, da bruxa e da mãe sugere que esses papéis femininos talvez não estejam bem compreendidos por essa criança. O discurso narrativo – cujo nascimento começa antes da criança falar e se estende até a idade adulta – está repleto de imagens, nomes e roteiros de ações ouvidos nos relatos cotidianos e nos contos de fadas, por exemplo. O modelo adulto, na forma de se comunicar e como voz da cultura da qual faz parte, transparece claramente na narrativa: a voz firme, as expressões faciais e corporais e alguns termos “pomposos” demonstram a sua familiaridade com o mundo letrado, discursivo e, ao mesmo tempo, lúdico.


Segundo Maria Virgínia Gastaldi, o pensar não se estrutura internamente, mas no momento da fala e a narrativa é o que modela e estimula a atividade mental. Assim, a oralidade é um dos principais motores do desenvolvimento na primeira infância (a menina aprendeu a falar em alemão e, depois, passou a utilizar o português) e aspecto-chave da creche (que a criança em questão freqüentou a partir dos 2 anos e meio) e da pré-escola (que freqüenta atualmente).


Nesse episódio, não houve interferências diretas, mas o adulto deve agir como um co-construtor das narrativas, incentivando a criança a avançar nos recursos que utiliza em suas construções. Maria Virgínia também diz que “as limitações linguísticas nessa fase são importantes e o adulto deve não só escutar o que ela diz mas também reconhecer sua intenção comunicativa e ajudá-la a expressar-se melhor." O contato com variados gêneros literários lidos e contados é fundamental para ela se familiarizar com os aspectos estruturais da narrativa - marcadores de tempo e espaço e contextualização de situações.


Ouço sempre com muita atenção e, oportunamente, intervenho nas falas da criança em questão – minha fofa filha – tendo o cuidado de não fazê-lo com tanta freqüência para não desmerecer suas narrativas e desestimular, com isso, suas tentativas de comunicação oral.


REFERÊNCIAS:


Áudio da narrativa de um adulto não alfabetizado.


Texto digitado Tem um monstro no meio da história (GURGEL, 2009). In: Revista Nova Escola. Agosto/2009. Disponível em:
https://www.ead.ufrgs.br/rooda/biblioteca/abrirArquivo.php/turmas/10570/materiais/12894.doc

Vídeo Pensamento infantil – A narrativa da criança. Disponível em: http://revistaescola.abril.com.br/crianca-e-adolescente/desenvolvimento-e-aprendizagem/pensamento-infantil-narrativa-crianca-489339.shtml

5 comentários:

Patricia Grasel disse...

Cris querida,

Adorei sua ideia de coocar em vídeo a atividade proposta pela interdisciplina de linguagem, minha dica para você nesse momento é que você escreve um pequeno paragráfo explicando sobre o que se trata o vídeo e o que você observou durante a narração da menina, que alías é muito bonitinha.
Bjos

Cristina disse...

Ok, Patricia, está feito!
Era essa a idéia...
BJ

Patricia Grasel disse...

Cris ficou ótima sua postagem. Parabens!

Bjo

Leonardo Porto disse...

Oi Cristina,

quero parabenizá-la pelas postagens ricas e bem construídas, agora vamos tentar transformá-las em auto-avaliação?
Vou lembrar-lhes os passos como forma publicados na página dos Pas:
1. Experimente reservar um tempo fixo na semana para realizar a postagem semanal. Pare para pensar na sua aprendizagem. Você merece esse tempo.

2. Cada postagem pode dar conta de aprendizagem que se relaciona com uma ou mais Interdisciplinas.

3. Construa as postagens de suas aprendizagens com argumentos e evidências.

4. As evidências são ações concretas que demonstram nossa aprendizagem. Essas ações podem ser exemplos da sala de aula, a aplicação de algo na sua vida pessoal, um trabalho na comunidade, a criação de uma atividade, um ato de pensamento que relaciona conceitos, etc. Mas essas ações são evidências quando acompanhadas por argumentos que fazem a leitura crítica das ações.

5. Ao trazer fragmentos de atividades ou de textos lidos nas Interdisciplinas mostre o seu posicionamento informado. Explique o que faz diferença ao saber isso. Demonstre por que tal ideia é importante. Relate se tal situação já foi vivida por você. Que tal mostrar as limitações ou os avanços contrapondo idéias e conceitos?

6. Continue usando os marcadores para sinalizar as Interdisciplinas que estão envolvidas em uma aprendizagem;

7. Lembre-se que o Portfólio de Aprendizagens transcende o curso, é público e tem visibilidade na Internet com visitas inesperadas.

Leonardo.

Eduardo Lara Resende disse...

Parabéns pelo trabalho! E, se puder, visite http://pretextoselr.blogspot.com/
Abraço.