sábado, 30 de maio de 2009

Método Clínico












Reestudar este assunto de maneira tão prática foi bastante prazeroso, pois as relações com as teorias de Piaget, no que diz respeito aos estádios de desenvolvimento, fluíram naturalmente.

A aplicação da prova de conservação da massa - quantidades contínuas - com uma aluna de 3 anos e 11 meses utilizando massa de modelar possibilitou as seguintes reflexões:
As crianças dessa faixa etária, de acordo com Piaget, encontram-se num segundo estágio de desenvolvimento cognitivo, no qual temos a representação pré-operacional - o início da linguagem, da função simbólica e, assim, do pensamento ou representação. No nível do pensamento representativo, há uma reconstrução de tudo o que foi desenvolvido no nível sensório-motor: as ações sensório-motoras não são imediatamente transformadas em operações.

Durante todo este segundo período de representações pré-operacionais não há ainda conservação, que é o critério psicológico da presença de operações reversíveis. Por exemplo, se transformarmos uma bolinha de massa de modelar em uma salsicha, a criança em fase pré-operacional pensará que há mais em uma forma do que na outra. Na ausência da reversibilidade, não há conservação da quantidade.

No teste aplicado, na mudança da forma de uma bolinha de massa de modelar em salsicha, a aluna responde que NÃO há a mesma quantidade de substância de antes, o que demonstra que ela ainda não domina a idéia, o conceito de conservação da quantidade. No retorno à igualdade inicial, a criança manteve a sua idéia inicial, que era da igualdade de quantidade nas duas bolinhas.
Ao transformarmos a bolinha de massinha em bolacha, a criança também conclui que não há mais a mesma quantidade, verificada inicialmente, porque a nova forma sugere aumento de volume. No retorno à igualdade inicial – bolacha em bolinha – ela volta a afirmar que as duas bolinhas têm a mesma quantidade, por terem a mesma forma.

Na terceira transformação – divisão da bolinha em vários pedaços – a criança acha, e depois, confirma, que não haverá a mesma quantidade, uma vez que os formatos serão outros. Além disso, a quantidade maior de unidades pressupõe, para ela, um volume maior. No retorno à igualdade inicial, novamente ela “percebe” a equivalência de volumes devido ao formato – e quantidade - igual das bolinhas.

Segundo Piaget, nenhum experimento, nenhuma experiência pode mostrar à criança que há a mesma quantidade de substância; essa conservação de substância é simplesmente uma necessidade lógica. A criança compreende que, quando há uma transformação, algo deve ser conservado, pois, revertendo a transformação, pode-se voltar ao ponto de partida e de novo ter a bola. Ela sabe que algo é conservado, mas não sabe o quê. Ainda não é o peso, nem o volume; é simplesmente a forma lógica - uma necessidade lógica. Mas parece-me um exemplo de progresso no conhecimento, uma necessidade lógica de algo a ser conservado, ainda que a experiência não possa ter levado a essa noção.

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